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Demografia Médica 2023: Brasil atinge taxa de 2,6 médicos por 1000 habitantes

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O documento “Demografia Médica no Brasil” é um estudo publicado anualmente desde 2011 pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em parceria com a Universidade de São Paulo (USP). Neste último ano, o estudo foi resultado de acordo de cooperação técnica entre a USP e a Associação Médica Brasileira (AMB).

O estudo tem como objetivo traçar um perfil da profissão médica no Brasil, analisando aspectos como a distribuição geográfica dos médicos, especialidades médicas, remuneração e condições de trabalho. Assim, busca-se através dessa publicação registrar as importantes transformações recentes na oferta, na formação e no trabalho dos médicos no Brasil.

Os estudos publicados até hoje revelam, por exemplo, que o número de médicos mais do que dobrou no Brasil em pouco mais de 20 anos e, nos últimos 13 anos, mais de 250.000 novos profissionais se formaram. De acordo com as projeções, no ano de 2035 o país deve alcançar a marca de mais de 1 milhão de médicos.

O estudo utiliza dados de diversas fontes, como o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) e a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), além de entrevistas com médicos. O relatório é considerado uma importante fonte de informação para gestores públicos, entidades médicas e pesquisadores, ajudando a orientar políticas públicas e ações para a área da saúde.

A seguir separamos alguns dados de destaque da Demografia Médica 2023. O documento completo pode ser acessado no link:

» Demografia Médica no Brasil 2023

Tópicos neste artigo:

Demografia Médica no Brasil 2023 – dados de destaque

Aumento do número de médicos

Em janeiro de 2023, o Brasil contava com 562.229 médicos inscritos nos 27 Conselhos Regionais de Medicina (CRMs), o que correspondia à taxa nacional de 2,60 médicos por 1.000 habitantes.

No curto período de 2020 a 2022, a taxa de crescimento do número de médicos foi de 8,6%, quase cinco vezes maior do que a taxa de crescimento da população nos mesmos anos, que foi de 1,6%.

Médicos especialistas e especialidades médicas

O percentual de médicos especialistas apresentou um aumento de 85% entre 2012 e 2022, considerando as 55 especialidades e 59 áreas de atuação médica, reconhecidas pela Comissão Mista de Especialidades. Em 2022 existiam 321.581 médicos com um ou mais título de especialista, o que correspondia a 62,5% do total de 514.215 profissionais em atividade no país.

As especialidades com maior número de registros de especialistas são Clínica Médica (56.979 médicos), Pediatria (48.654), Cirurgia Geral (41.547), Ginecologia e Obstetrícia (37.327), Anestesiologia (29.358), Ortopedia e Traumatologia (20.972), Medicina do Trabalho (20.804) e Cardiologia (20.324). Juntas, as oito especialidades mais frequentes representam mais da metade (55,6%) do total de registros de especialistas.

Um segundo grupo, de cinco especialidades, soma 14,4% dos especialistas: Oftalmologia (17.967 registros), Radiologia e Diagnóstico por Imagem (16.899), Psiquiatria (13.888), Dermatologia (11.431) e Medicina de Família e Comunidade (11.255). Assim, 13 das 55 especialidades reúnem perto de 70% dos registros existentes.

Concentração e dispersão geográfica

Apesar do aumento de médicos no Brasil, ainda existe grande concentração desses profissionais nas regiões Sudeste e Sul. A região norte tem uma taxa de 1,45 médicos por 1.000 habitantes, e o Nordeste, 1,93. A região Sudeste, por sua vez, apresenta 3,39 médicos por 1.000 habitantes, seguida do Centro-Oeste (3,10) e Sul (2,95).

Também as capitais apresentam densidade média de médicos por habitantes (6,13) muito maior que os interiores (1,84) e, dentro de alguns estados, essa diferença é ainda mais expressiva.

Em 2022, no conjunto das cidades com menos de 50.000 habitantes, onde vive mais de 30% da população, estavam presentes apenas 8% dos médicos.

Perfil e remuneração dos profissionais

Em 2009, as mulheres representavam 40,5% do contingente de médicos no Brasil e, em 2022, a diferença entre gêneros diminuiu 8,1%, com o registro de 48,6% de mulheres sobre o total (totalizando 260.000 médicas). A projeção é que, já em 2024, as mulheres serão a maioria entre os profissionais de medicina no Brasil.

Apesar desse aumento, mulheres ainda são sub representadas em algumas especialidades médicas. Os homens são maioria em 36 das 55 especialidades médicas e as mulheres predominam em 19 delas. Em Urologia, Ortopedia e Traumatologia, e Neurocirurgia os homens representam mais de 90% entre os especialistas. Em nove especialidades, os homens são mais de 80%.

A especialidade com maior número de mulheres é a Dermatologia, com 8.236 médicas, que correspondem a 77,9% dos dermatologistas. Outras especialidades com grande proporção de mulheres são Pediatria (75,6%), Alergia e Imunologia e Endocrinologia e Metabologia (ambas com 72,1%).

Quanto à remuneração, a renda média mensal dos médicos, segundo dados da Receita Federal, foi de R$ 30,1 mil em 2020.

Mulheres declararam receber cerca de 36% a menos que os homens. A renda média declarada pelos homens em 2020 foi de R$36.421 enquanto a das mulheres foi de R$23.205. Essa diferença oscila quando observados outros critérios, como faixa etária, e mantém-se mesmo com adequações por especialidade e carga horária.

Os profissionais entre 51 e 60 anos de idade tiveram o maior rendimento declarado entre as faixas etárias, de R$ 41,2 mil em média. Enquanto isso, os estratos etários inferiores, de 19 a 30 anos (R$ 12,2 mil) e 31 a 40 anos (R$ 24,8 mil), tiveram menor renda declarada.

Educação médica

Em dez anos, de 2013 a 2022, registrou-se a maior expansão do ensino médico da história do Brasil. Em 2022 o país contava com 389 escolas médicas que, juntas, ofereciam 41.805 vagas de graduação. Porém, apenas 10% das novas vagas são públicas, com a abertura de vagas ocorrendo predominantemente em instituições de ensino privadas.

Apesar do aumento expressivo de vagas e cursos, três estados concentram 40% da oferta de graduação. São Paulo concentra 22% das vagas do país. Minas Gerais vem em seguida, com 12% das vagas, antes do Rio de Janeiro, com 7,7%.

O estudante de medicina no Brasil é majoritariamente branco, do gênero feminino, com idade entre 19 e 24 anos, faz a graduação em instituições privadas e cursou o ensino médio também em escolas particulares.

Houve, entretanto, aumento da população negra, que é a soma daqueles alunos que se declaram pretos e pardos: de 1.483 alunos em 2010 para 9.326 em 2019.

Quanto à residência médica, em 2021, 4.950 programas estavam credenciados no Brasil e 41.853 médicos cursavam residência no país, inscritos em programas mantidos por 789 instituições credenciadas pela Comissão Nacional de Residência Médica. Dessa forma, a residência envolve aproximadamente 8% dos médicos do país.

Em 2021, cerca de 48% dos médicos residentes cursavam programas em cinco especialidades: Clínica Médica (14,2%), Pediatria (10,9%), Ginecologia e Obstetrícia (9,2%), Anestesiologia (7,1%) e Área Cirúrgica Básica (6,5%). A concentração em Clínica Médica e Cirurgia Geral/Área Cirúrgica Básica se deve também ao fato de serem pré-requisito para acessar outros programas de residência médica.

Ao comparar a oferta nacional de vagas de R1 de determinado ano com o número de profissionais que concluíram medicina no ano anterior percebe-se um descompasso entre a formação especializada e o ensino de graduação. Em função da intensa abertura de cursos de medicina, as vagas de R1 não têm sido suficientes para formar especialistas em quantidade equivalente aos novos registros de médicos formados no ano anterior.

Cabe lembrar, contudo, que não é obrigatório cursar residência médica para exercer a medicina no Brasil, e caiu por terra a legislação que previa a “universalização” da residência (uma vaga de residência para cada egresso da graduação).

Há ainda a questão das vagas de residência não ocupadas. Em 2018, das 23.179 vagas autorizadas, 3.637 (15,7%) não foram ocupadas. Já em 2020 e 2021, as taxas de não ocupação praticamente dobraram em relação a 2018. Em 2020, foram 6.593 vagas não ocupadas – ou 28,1% das vagas autorizadas no ano. Em 2021, a ociosidade chegou a 31,8% do total de vagas autorizadas.

Consultas médicas no Brasil

Mais de 600 milhões de consultas médicas são realizadas por ano no Brasil, o que corresponde a aproximadamente três consultas por habitante. Considerando o número de médicos no país, cada profissional realiza, em média, 1.260 consultas anualmente.

A população que usa exclusivamente a rede pública do SUS realiza menos consultas (2,3 por habitante) por ano do que os clientes da assistência médica suplementar (3,3 por habitante).

Ao mesmo tempo, permanecem disparidades na distribuição de médicos entre a rede do SUS e o setor privado. Há, proporcionalmente, mais profissionais à disposição de serviços que atendem usuários da assistência médica suplementar, que não chegam a 30% da população.

Desafios para o avanço da assistência médica no Brasil

Levando em consideração esses dados da Demografia Médica no Brasil, existem vários pontos nos quais a medicina precisa avançar para atender às demandas da população e melhorar a saúde no país. Alguns dos principais pontos são:

Distribuição geográfica dos médicos

A concentração de médicos nas regiões mais desenvolvidas do país é um desafio para garantir o acesso à saúde em áreas mais remotas e menos favorecidas. É necessário avançar em políticas que incentivem a fixação de médicos em regiões carentes, como o aumento da oferta de residências médicas nessas áreas e programas de incentivo financeiro.

Especialidades médicas

A distribuição de médicos por especialidade também é um desafio, especialmente em áreas como a medicina preventiva. É necessário incentivar a formação de médicos nessas áreas e criar políticas que valorizem essas especialidades.

Gênero e idade dos médicos

O aumento da participação feminina na medicina é uma tendência importante, mas é preciso garantir que haja igualdade de oportunidades e remuneração entre homens e mulheres. Além disso, é necessário preparar a medicina para o envelhecimento da população, com políticas de incentivo à formação de médicos geriatras e de cuidados paliativos.

Remuneração e condições de trabalho

A remuneração e as condições de trabalho dos médicos são temas importantes para a qualidade do atendimento e a retenção de profissionais no país. É preciso avançar em políticas que garantam melhores condições de trabalho, incluindo a segurança no ambiente de trabalho e a redução da sobrecarga de trabalho. Além disso, é necessário garantir uma remuneração justa e adequada para os médicos, especialmente para aqueles que atuam na rede pública de saúde.

Portal de Demografia Médica do CFM

Em fevereiro de 2023, o Conselho Federal de Medicina lançou uma plataforma que busca democratizar o acesso a informações sobre os profissionais de medicina no país. O portal de Demografia Médica fica à disposição da sociedade para que os diferentes tipos de usuários possam avaliar, de forma continuada, as mudanças em processo no perfil e na distribuição dos médicos que atuam no Brasil.

A plataforma disponibiliza dados sobre os médicos no Brasil (total de profissionais, razão por habitante, divisão por sexo, idade, perfil de formação), movimento de entrada e saída do mercado (número de egressos/ano, pedidos de inativação/ano), evolução populacional (índices de crescimento da população em geral e da população de médicos), distribuição geográfica (perfil do médico por região, estado, capital, interior, porte populacional) e ranking de estados e capitais.

A plataforma pode ser acessada em: demografia.cfm.org.br/dashboard.


A Demografia Médica no Brasil é uma importante fonte de informação sobre a situação da profissão médica no país, ajudando a orientar políticas públicas e ações para a área da saúde.

Muito tem melhorado nas últimas décadas, mas ainda há um longo caminho pela frente e muito no que se pode avançar para a evolução da área de saúde no Brasil.

 

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