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Demografia Médica 2024: Brasil tem quase 600 mil médicos ativos, mas desigualdades persistem

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O Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgou no início de abril a Demografia Médica CFM 2024, com os dados atualizados (verificados até janeiro de 2024) sobre o perfil e distribuição dos médicos no Brasil.

Analisando a demografia médica do Brasil em 2024, os números revelam um paradoxo significativo: enquanto há quase 600 mil médicos ativos, superando a marca de muitas nações desenvolvidas, persistentes desigualdades regionais lançam sombras sobre o sistema de saúde do país. Essa questão delineia um cenário complexo que merece uma análise detalhada.

Os dados estão reunidos em uma plataforma online, de perfil aberto, que facilita a atualização dos dados. Confira os dados completos acessando o link:

» Observatório CFM – Demografia Médica

Veja a seguir destaques e análises do levantamento.

Crescimento da medicina

Nos últimos trinta anos, o Brasil assistiu a um aumento expressivo no número de médicos, superando o crescimento populacional do país. Desde 1990, a população brasileira cresceu 42%, saltando de 144 para 205 milhões, enquanto a quantidade de médicos cresceu oito vezes mais.

Com 598.573 médicos registrados, a densidade médica atinge 2,81 médicos por mil habitantes, ultrapassando os Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul e México, por exemplo, e aproximando-se da recomendação de 3,5 médicos por mil habitantes sugerida pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

O impulso desse crescimento pode ser atribuído ao aumento de faculdades de medicina, que agora somam quase 400 instituições, além da crescente demanda por serviços de saúde. Essa expansão educacional teve implicações diretas na disponibilidade de profissionais de saúde, mas levanta questionamentos sobre a qualidade do ensino e a distribuição equitativa desses recursos humanos.

Distribuição dos médicos no Brasil

Ao observarmos a distribuição dos profissionais (com até 80 anos) pelo país, as estatísticas revelam uma realidade dualista. A região Sudeste, a mais desenvolvida do Brasil, conta com uma densidade de 3,76 médicos por mil habitantes, enquanto o Norte, uma região com desafios significativos de infraestrutura e acesso a serviços, possui apenas 1,73 médicos por mil habitantes. Esse desequilíbrio ilustra uma concentração de recursos médicos em áreas urbanas e mais ricas, deixando vastas áreas subatendidas.

Outra disparidade que vale notar é entre as densidades nas capitais e no interior, sendo respectivamente de 7,03 e 1,89 médicos por mil habitantes. Esse fosso entre centros urbanos e áreas mais remotas aponta para uma dificuldade persistente em atrair e reter médicos em regiões que mais necessitam de atendimento.

Observando o cenário dos estados, São Paulo lidera com o maior número de registros médicos, seguido de Minas Gerais e Rio de Janeiro, refletindo o alinhamento entre o desenvolvimento econômico e a disponibilidade de recursos de saúde. Estados menos desenvolvidos, como Amapá, Maranhão e Roraima, estão no outro extremo do espectro, com os menores número de registros e densidade de médicos.

Estes dados da distribuição dos profissionais pelo país sublinham a importância de uma estratégia nacional coordenada para alocar médicos onde eles são mais necessários, uma tarefa que exige não apenas investimentos em educação médica, mas também em incentivos para a prática médica em áreas carentes.

Perfil dos profissionais de medicina

O equilíbrio entre os sexos na medicina é cada vez maior: atualmente o Brasil conta com 287.457 mulheres e 288.473 homens exercendo a profissão (considerando profissionais com até 80 anos). Estima-se que, em breve, o número de médicas ultrapasse o de médicos.

Quanto à idade, a média ficou em 44,66 anos, com a observação da pirâmide etária evidenciando uma concentração maior de profissionais jovens: a maioria dos médicos está na faixa etária de 30 a 39 anos. O tempo médio desde a formação é de 18,82 anos, apontando para uma força de trabalho relativamente jovem e, potencialmente, menos experiente.

Entre profissionais com menos de 39 anos, o número de mulheres já é superior ao de homens, somando 58% em comparação a 42%.

Especialização e formação dos médicos

A especialização é outro ponto de destaque da Demografia Médica de 2024. Há mais especialistas (312.324) do que generalistas (263.606), um indicativo de que a medicina brasileira segue uma tendência global de foco em áreas específicas.

Entretanto, isto pode representar um desafio para o atendimento primário e a saúde da família, fundamentais para a prevenção de doenças e promoção da saúde pública.

Quando se trata de formação, 551.520 médicos foram graduados no Brasil, contrastando com 24.410 formados no exterior. A predominância de médicos formados internamente pode ser vista como um sinal positivo de autonomia na formação de recursos humanos em saúde, mas também reforça a necessidade de manter padrões elevados de educação médica.

Metodologia da pesquisa

As notas metodológicas do Conselho Federal de Medicina acrescentam uma camada essencial de compreensão sobre a coleta e interpretação desses dados demográficos. A contagem de médicos é baseada em inscrições ativas nas 27 unidades dos Conselhos Regionais de Medicina (CRMs) e leva em consideração apenas aqueles com registros principais, excluindo duplicações e inscrições secundárias.

O termo “médico generalista” é adotado para designar o médico sem nenhum título de especialista, ou seja, aquele com formação geral em Medicina. São considerados médicos especialistas aqueles que possuem o Registro de Qualificação de Especialista (RQE), um documento que atesta o nível de especialização de um médico e só é fornecido aos profissionais que concluem Residência Médica ou que foram aprovados na prova de título de especialista na especialidade em questão.

As informações da população geral brasileira utilizadas são oriundas do último censo do IBGE, com referência a dezembro de 2022. A base de dados obtida traz a contagem da população por município.


Concluindo, o panorama da demografia médica em 2024 no Brasil apresenta avanços notáveis no número de profissionais de saúde disponíveis, um marco que se alinha com padrões internacionais. No entanto, as disparidades regionais e a concentração de médicos em áreas urbanas e desenvolvidas levantam preocupações substanciais sobre a equidade no acesso aos cuidados de saúde.

Mantendo-se o ritmo de crescimento da população e de escolas médicas, a previsão é que em 2028 o país contará com 3,63 médicos por mil habitantes. O desafio então será garantir que este crescimento seja acompanhado de políticas efetivas de distribuição e estratégias que atendam às necessidades das regiões mais carentes. A qualidade da formação médica e a capacidade de resposta do sistema de saúde às demandas da população serão os verdadeiros indicadores do sucesso deste crescimento.

A esperança é que, com um entendimento robusto da demografia médica e um planejamento cuidadoso, o Brasil possa superar as desigualdades persistentes e fornecer um futuro mais saudável para todos os seus cidadãos.

 

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