Campanha de melhoria da relação médico-paciente: Dr. Alonso Augusto Moreira Filho lança o livro 'Relação Médico-Paciente: teoria e prática'
Como parte de uma campanha para a melhoria da relação médico-paciente, o Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRMMG) adquiriu, para distribuição no CRM de Minas Gerais, 30.000 exemplares do livro Relação Médico-Paciente: teoria e prática, do médico mineiro Alonso Augusto Moreira Filho.
O livro já está disponível nas livrarias médicas e pode ser adquirido também na internet através do endereço http://www.artnet.com.br/~if/. Nesta entrevista, dr. Alonso aponta desafios e possibilidades da relação médico-paciente na atualidade.
O livro já está disponível nas livrarias médicas e pode ser adquirido também na internet através do endereço http://www.artnet.com.br/~if/. Nesta entrevista, dr. Alonso aponta desafios e possibilidades da relação médico-paciente na atualidade.
Por que o senhor escreveu um livro sobre Relação Médico-Paciente?
Porque considero que este é um dos fundamentos mais importantes da prática médica. Outros dois são a semiologia e a terapêutica. Mas de nada adianta ao médico saber tratar se ele não for capaz de estabelecer com os pacientes, pelo tempo e nas condições necessárias, um relacionamento adequado. Os dois últimos o médico aprende nas Faculdades. O primeiro, não. Imaginemos uma mesa de três pés. Se dissermos que cada um deles suporta 1/3 do peso da mesa, estaremos certos. No entanto, sem um deles a mesa não fica em pé...
Porque considero que este é um dos fundamentos mais importantes da prática médica. Outros dois são a semiologia e a terapêutica. Mas de nada adianta ao médico saber tratar se ele não for capaz de estabelecer com os pacientes, pelo tempo e nas condições necessárias, um relacionamento adequado. Os dois últimos o médico aprende nas Faculdades. O primeiro, não. Imaginemos uma mesa de três pés. Se dissermos que cada um deles suporta 1/3 do peso da mesa, estaremos certos. No entanto, sem um deles a mesa não fica em pé...
Que assuntos de interesse prático o senhor aborda no livro?
Entre outros, critérios para diferenciar um sintoma orgânico de outro psicogênico; principais tipos de reações dos pacientes à enfermidade, ao tratamento e ao médico e estratégias psicoterápicas para o médico não psiquiatra.
Então o seu livro visa ensinar como estabelecer uma boa relação médico-paciente?
Não propriamente ensinar. O livro levanta alguns pontos que creio que sejam de validade geral, mas as diversas especialidades apresentam problemas específicos da relação com os pacientes que só podem ser analisados e solucionados com o auxílio dos especialistas. O estudo da relação médico-paciente não é tarefa para uma pessoa só.
O senhor considera que a relação médico-paciente hoje em dia é pior do que foi no passado?
Pior não, diferente. No passado, a Medicina era mais de ouvir e tocar. Tinha-se que conversar muito com os pacientes, apalpar-lhes o corpo, ouvir seus ruídos... Hoje em dia pratica-se mais uma Medicina de ver. Olha-se para os resultados de exames, escrutina-se imagens... Muitas vezes nem se olha para o paciente. Em compensação, no passado o que se podia fazer era pouca coisa. Hoje se pode muito mais.
O que ocasionou essa transformação?
Sem dúvida, a interposição da tecnologia é bem vinda à Medicina. Desejamos que ela seja cada vez mais avançada e precisa, mas não podemos desconhecer que ela também tem seus efeitos colaterais que devem ser estudados para que os avanços tecnológicos possam ser cada vez mais bem aproveitados. A Medicina não descarta uma medicação só porque tenha efeitos colaterais... Procura controlá-los...
Que efeitos colaterais são esses que a tecnologia ocasionou?
Em primeiro lugar, ela isolou o homem de seu contexto familiar, social e cultural e contribuiu para que ele fosse visto como um sistema fechado em si mesmo. Além disso, a tecnologia se focaliza sobre o corpo e, ainda, o divide e subdivide em unidades mínimas, descontextualizando a significação dos achados. Muitas vezes a tecnologia, ao valorizar achados inocentes, transforma sãos em doentes. Por último, ao prolongar a vida e conseguir a sobrevivência de pessoas pouco aptas, ela gera novos problemas de saúde.
Então o médico sempre perde a sua batalha, seja quando o paciente morre, seja quando ele sobrevive?
Não, não é assim. Se considerarmos apenas no plano individual, o médico de fato parece estar gerando novas doenças e perdendo sua luta com a morte. Mas em nível geral, ele está ganhando. A vida hoje é mais longa e mais saudável do que era no passado. Antigamente, uma pessoa de 60 anos era um ancião. Hoje, muitas pessoas continuam produtivas aos 80 anos. Muitas enfermidades foram erradicadas. As pessoas estão conscientes de que devem fazer mais exercícios, que podem se alimentar de maneira mais saudável, como devem agir para evitar acidentes, etc. Tudo isso foi conseguido pelos médicos. Para cada paciente que perdem há milhares que eles salvam... O resultado está aí, para se ver. Um general, também, quando manda sua tropa para a batalha sabe que morrerão milhares, mas que assim está preservando a vida de milhões...
Quais as conseqüências práticas que essas modificações na relação médico-paciente têm trazido à prática médica?
A maior delas talvez seja que o médico e o paciente se afastaram um do outro. Muitas vezes se exige do médico que ele seja mais um técnico que saiba manejar máquinas do que uma pessoa que saiba interagir com outra, que está numa situação especial. Isso dá maior margem ao surgimento de hostilidades entre eles. Hoje em dia, o crescimento do número de querelas entre médicos e pacientes, de processos injustificáveis por supostos erros médicos e a banalização da profissão são uma demonstração disso.
Como fica a relação médico-paciente depois da "era dos convênios" que reduziu o tempo que os médicos podiam dedicar aos seus pacientes?
O tempo é apenas uma das variáveis da questão. Uma boa relação médico-paciente não precisa ser necessariamente muito longa. A experiência do tempo vivido não é simétrica com o tempo do relógio. Poucos minutos bem aproveitados produzem a sensação de muito. Muitos minutos mal usados levam ao sentimento de nada. Enid Balint, considerando um serviço público de assistência médica, na Inglaterra, escreveu o livro "Seis minutos para o paciente", no qual demonstra que se pode atender bem num tempo pequeno.
E a internet, que efeitos o senhor acha que ela terá na relação médico-paciente?
No geral, o mesmo efeito de toda evolução tecnológica. A internet também é bem vinda e oxalá ela se aperfeiçoe cada vez mais. Hoje já é possível ao médico, no meio da rua, consultar seu fichário de pacientes, em seu telefone celular. Já é possível operar à distância... A internet trará outras facilidades ainda inimagináveis. Os médicos devem analisar seus efeitos colaterais e se prepararem para revertê-los em favor dos pacientes. Não devem rejeitar a internet. Ela trará à Medicina problemas novos que poderão ser resolvidos, mas trará também ganhos incomparavelmente maiores.
Não propriamente ensinar. O livro levanta alguns pontos que creio que sejam de validade geral, mas as diversas especialidades apresentam problemas específicos da relação com os pacientes que só podem ser analisados e solucionados com o auxílio dos especialistas. O estudo da relação médico-paciente não é tarefa para uma pessoa só.
O senhor considera que a relação médico-paciente hoje em dia é pior do que foi no passado?
Pior não, diferente. No passado, a Medicina era mais de ouvir e tocar. Tinha-se que conversar muito com os pacientes, apalpar-lhes o corpo, ouvir seus ruídos... Hoje em dia pratica-se mais uma Medicina de ver. Olha-se para os resultados de exames, escrutina-se imagens... Muitas vezes nem se olha para o paciente. Em compensação, no passado o que se podia fazer era pouca coisa. Hoje se pode muito mais.
O que ocasionou essa transformação?
Sem dúvida, a interposição da tecnologia é bem vinda à Medicina. Desejamos que ela seja cada vez mais avançada e precisa, mas não podemos desconhecer que ela também tem seus efeitos colaterais que devem ser estudados para que os avanços tecnológicos possam ser cada vez mais bem aproveitados. A Medicina não descarta uma medicação só porque tenha efeitos colaterais... Procura controlá-los...
Que efeitos colaterais são esses que a tecnologia ocasionou?
Em primeiro lugar, ela isolou o homem de seu contexto familiar, social e cultural e contribuiu para que ele fosse visto como um sistema fechado em si mesmo. Além disso, a tecnologia se focaliza sobre o corpo e, ainda, o divide e subdivide em unidades mínimas, descontextualizando a significação dos achados. Muitas vezes a tecnologia, ao valorizar achados inocentes, transforma sãos em doentes. Por último, ao prolongar a vida e conseguir a sobrevivência de pessoas pouco aptas, ela gera novos problemas de saúde.
Então o médico sempre perde a sua batalha, seja quando o paciente morre, seja quando ele sobrevive?
Não, não é assim. Se considerarmos apenas no plano individual, o médico de fato parece estar gerando novas doenças e perdendo sua luta com a morte. Mas em nível geral, ele está ganhando. A vida hoje é mais longa e mais saudável do que era no passado. Antigamente, uma pessoa de 60 anos era um ancião. Hoje, muitas pessoas continuam produtivas aos 80 anos. Muitas enfermidades foram erradicadas. As pessoas estão conscientes de que devem fazer mais exercícios, que podem se alimentar de maneira mais saudável, como devem agir para evitar acidentes, etc. Tudo isso foi conseguido pelos médicos. Para cada paciente que perdem há milhares que eles salvam... O resultado está aí, para se ver. Um general, também, quando manda sua tropa para a batalha sabe que morrerão milhares, mas que assim está preservando a vida de milhões...
Quais as conseqüências práticas que essas modificações na relação médico-paciente têm trazido à prática médica?
A maior delas talvez seja que o médico e o paciente se afastaram um do outro. Muitas vezes se exige do médico que ele seja mais um técnico que saiba manejar máquinas do que uma pessoa que saiba interagir com outra, que está numa situação especial. Isso dá maior margem ao surgimento de hostilidades entre eles. Hoje em dia, o crescimento do número de querelas entre médicos e pacientes, de processos injustificáveis por supostos erros médicos e a banalização da profissão são uma demonstração disso.
Como fica a relação médico-paciente depois da "era dos convênios" que reduziu o tempo que os médicos podiam dedicar aos seus pacientes?
O tempo é apenas uma das variáveis da questão. Uma boa relação médico-paciente não precisa ser necessariamente muito longa. A experiência do tempo vivido não é simétrica com o tempo do relógio. Poucos minutos bem aproveitados produzem a sensação de muito. Muitos minutos mal usados levam ao sentimento de nada. Enid Balint, considerando um serviço público de assistência médica, na Inglaterra, escreveu o livro "Seis minutos para o paciente", no qual demonstra que se pode atender bem num tempo pequeno.
E a internet, que efeitos o senhor acha que ela terá na relação médico-paciente?
No geral, o mesmo efeito de toda evolução tecnológica. A internet também é bem vinda e oxalá ela se aperfeiçoe cada vez mais. Hoje já é possível ao médico, no meio da rua, consultar seu fichário de pacientes, em seu telefone celular. Já é possível operar à distância... A internet trará outras facilidades ainda inimagináveis. Os médicos devem analisar seus efeitos colaterais e se prepararem para revertê-los em favor dos pacientes. Não devem rejeitar a internet. Ela trará à Medicina problemas novos que poderão ser resolvidos, mas trará também ganhos incomparavelmente maiores.
Qual sua palavra final a seus colegas médicos, sobre esse assunto?
Uma boa relação médico-paciente não beneficia apenas os pacientes, mas também os médicos. Fazem o seu trabalho mais leve e agradável e lhes garante uma clientela mais fiel. Os médicos precisam perder a humildade, não para se tornarem arrogantes, mas para reconhecer que eles são o principal remédio que ministram aos pacientes e que, se não podem evitar a morte, estão tornando a vida melhor.