Encontrando o equilíbrio entre prescrever medicamentos e sugerir mudanças de hábitos
Não é incomum nos consultórios encontrar dois perfis diferentes de pacientes quando o assunto é medicamentos.
O primeiro é o paciente que tem um forte desejo de tomar medicação para aliviar tudo, desde dor nas costas até uma infecção fúngica da unha. Não é incomum para um paciente que realmente precisa se envolver em mudanças vigorosas no estilo de vida, perguntar sobre a possibilidade de tomar um remédio em vez disso.
O segundo tipo de paciente é aquele que não gosta de tomar remédio, é muito sensível a medicamentos ou acredita que segundas intenções (como vendas de produtos farmacêuticos) conduzem os pacientes desnecessariamente à medicação. Não surpreendentemente, às vezes estes pacientes que apresentam resistência à medicação são os que mais precisam dela, enquanto aqueles que têm melhores opções não-farmacológicas solicitam produtos farmacêuticos.
A farmácia é uma área surpreendente e que se desenvolve cada dia mais, com novas respostas aos mais diversos problemas de saúde. Existem hoje agentes farmacológicos impressionantes que previnem ataques cardíacos e derrames, curam doenças que são potencialmente fatais, matam células cancerígenas e mudam a vida das pessoas que sofrem com doenças psiquiátricas.
Porém, o tratamento não farmacológico também tem grande poder. Comida é medicina, como foi tão apropriadamente declarado por Hipócrates séculos atrás. Exercício físico, diversos estudos citam, pode fazer enorme diferença no tratamento das mais diversas condições. A meditação, a terapia cognitivo-comportamental e a acupuntura também apresentam evidências científicas que apoiam seu uso. Portanto, é possível ser flexível no tratamento dos dois grupos de pacientes citados anteriormente.
Às vezes, ambas as opções são viáveis. Ansiedade, por exemplo, tem muitas opções de tratamento em ambas as vertentes, de modo que é possível discutir estas opções com o paciente e adaptar as recomendações de acordo com as particularidades de cada um.
Em outras situações, a defesa do uso de uma medicação pode ser necessária - como com as estatinas, medicamentos hipertensivos e para diabetes. Também nestes casos é preciso encorajar mudanças de estilo de vida, mas os benefícios dos medicamentos não podem deixar de serem exaltados, ainda que alguns pacientes reclamem de receber uma prescrição.
Em muitos casos, a aversão ao uso de medicamentos decorre de alguma experiência ruim que o paciente pode ter tido com um uso prévio, como um efeito adverso, e ele decide não tentar novamente aquele tipo de medicamento. Em alguns casos, porém, observa-se que este mesmo paciente utiliza cronicamente algum medicamento sem prescrição, como analgésicos, que lhe causa dor de cabeça por uso excessivo. Estes casos são mais desafiadores, pois o médico precisa defender uma medicação ao mesmo tempo que discute contra outra.
Não surpreendentemente, o melhor tratamento normalmente envolve múltiplas modalidades: medicamentos e tratamento não farmacológico.
O médico deve saber equilibrar cada caso, trabalhando as duas modalidades para minimizar danos e maximizar o benefício para a saúde do paciente, considerando também o perfil de cada um. Só assim poderá engajar o paciente em seu tratamento para caminharem juntos e obterem os melhores resultados de saúde.